O marketplace Mesbla.com, lançado no início do mês com um catálogo de 250 mil produtos, é uma iniciativa dos irmãos e parceiros Marcel Jeronimo e Ricardo Viana. Eles investiram R$ 500 mil no projeto, concebido ao longo de um ano. Os dois têm uma forte ligação pessoal com a Mesbla, que era a patroa do pai, da mãe e do próprio Marcel. Segundo ele, o momento é propício para a abertura do negócio. “Foi uma combinação de fatores que, felizmente, nos ajudaram a voltar à marca dentro de parâmetros muito bons para o mercado”, disse.
No ano passado, o e-commerce faturou R$ 161 bilhões no Brasil, 26,9% acima do resultado de 2020, segundo dados da Neotrust. A volta da Mesbla como marketplace segue o caso da Mappin, que ressurgiu como marca de e-commerce em 2019, sob o comando dos controladores da rede Marabraz. Com vendas próprias e e-commerce, a Mappin atualmente comercializa produtos de decoração, sofás, roupas de cama e iluminação. No caso da Mesbla, o portfólio é muito mais diversificado.
“Foi uma combinação de fatores que, felizmente, nos ajudaram a devolver a marca dentro de parâmetros muito bons para o mercado. Há espaço para todos e a competição é normal” Marcel Jeronimo, sócio da Mesbla.
Para o sócio da Sponsorb e cofundador da Malbec Angels, Fernando Moulin, o retorno das marcas que fizeram sucesso no varejo do século 20 pode ser explicado pela combinação de duas tendências. A primeira é a transformação digital do varejo. Enquanto as vendas por meio de sites e aplicativos são predominantemente voltadas para consumidores mais jovens, a necessidade de expandir a base de clientes força a inclusão de gerações mais velhas. São justamente esses consumidores que têm as marcas do passado ainda vivas na memória, com as quais mantiveram uma relação afetiva e emocional por décadas. Outro fator que explica a valorização de marcas já extintas é o que Moulin chama de “referência da marca”. Segundo o especialista, ao ter pleno acesso às transações digitais, o ser humano busca se relacionar com empresas que tenham valor e propósito.
CONCORRÊNCIA Apesar de reunir esses atributos, a Mesbla estreia no varejo eletrônico, concorrendo com marcas que se consolidaram nesse ambiente. Enfrentá-los será um grande desafio. Segundo pesquisa da Conversion, mais de 80% do marketplace nacional está concentrado em cinco empresas: Mercado Livre (33,7%), Americanas (15,3%), Amazon (13,4%), Magazine Luiza (12,6%) e Casas Bahia (8,3%). Para Marcel, esse cenário não é assustador. “Há espaço para todos e a competição é normal.” Apesar da confiança, a Mesbla ainda está construindo sua base de vendedores. Para o lançamento, foi montado um hub com 2.500 fornecedores parceiros de médio e pequeno porte.

Um segundo desafio para a Mesbla é equilibrar a experiência do passado com o modelo de negócios atual, para entregar as experiências desejadas pelos consumidores de hoje. Para o CEO da TM20branding, Eduardo Tomiya, a tradição por si só não ganha o jogo. “A marca é um resíduo de experiências. Você tem que associar a tradição a uma proposta de valor clara.” Para isso, os executivos à frente da empresa apostam em atendimento e preços competitivos. A marca também investiu em publicidade e online e offline. Chegou até a embrulhar vagões do metrô no Rio de Janeiro para se reintroduzir no mercado. Fundador da Varese Retail, o consultor Alberto Serrentino entende que isso é necessário já que as novas gerações não têm vínculo emocional com a marca. Segundo ele, os clientes mais jovens “terão que ser conquistados dentro dos ambientes em que estão engajados hoje. E isso vale um esforço semelhante ao de iniciar uma nova marca.” É varejo vintage.